quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Relatos do abandono: Onde estão nossos trens?


O barulho das rodas indestrutíveis sobre os trilhos de ferro, a buzina inconfundível que mostrava o colosso com seu motor diesel despertando a imaginação das gerações, os vagões carregando toneladas para os mais longínquos lugares e as estações com pontos de parada nas cidades. Tudo isso nos faz perguntar: Por onde andam nossos trens?
O Patosonline.com foi em busca de respostas para saber o porquê do mais barato e seguro transporte de cargas e passageiros estar abandonado no Nordeste. Com o abandono dos trens, as rodovias passaram a ter mais caminhões para escoar as mercadorias causando problemas de tráfego dos mais variados.
Vaja o que diz Severino Urbano, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias do Estado da Paraíba (SINTEFEP):
“A partir do dia 01 de janeiro de 1998, fruto do processo de privatização implantado no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), começou a operar na Paraíba a empresa Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), sucedendo a Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA), que entre tantas nomenclaturas, hoje é denominada Ferrovia Transnordestina e Logística S/A (FTL). A empresa já renasce morta, pois não está administrando e operando nada no estado”.
“Esta empresa assumiu o transporte ferroviário de cargas, que antes público, passou a ser privado. Antes desta ‘sucessão’, a ferrovia operava a pleno vapor, com trens circulando em nosso estado, tanto internamente, quanto externamente, com cargas vindas dos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco”.
“Éramos em torno de 400 ferroviários; a maioria das estações abertas; o trecho ferroviário (via permanente) tinha condições de trafego; oficinas funcionando; alojamento em perfeitas condições e tínhamos a credibilidade dos clientes que transportavam suas mercadorias com segurança, pontualidade, além de o frete ferroviário ser muito mais barato do que o frete rodoviário. O estado da Paraíba tinha receitas de todo transporte ferroviário que circulava”.
“Os clientes sumiram devido ao alto valor de transporte que foi implantado pela nova empresa, bem como a falta de pontualidade na entrega das suas mercadorias. Com isso, quem perdeu foi estado, que deixou de arrecadar. E o mais grave: os empregados que perderam seus postos de trabalhos, chegando ao nível crítico de apenas 30 empregados”, Relata Severino Urbano.
A reportagem ouviu o senhor Ademar Almeida, que reside na cidade de Patos e começou a trabalhar na empresa em 1983 na cidade de Campina Grande (PB). Em 1984 ele veio morar no município de Patos com sua família. Triste com a situação da empresa que já foi símbolo de desenvolvimento, ele diz: “Eu não acredito que veja a ferrovia voltar a funcionar”.
Seu Ademar espera pela aposentadoria que está na justiça devido à empresa burocratizar direitos elementares do trabalhador. Seu Ademar se lembra dos tempos áureos em que a Rede Ferroviária Federal tinha centenas de trabalhadores e funcionava 24 horas transportando mercadorias de forma eficaz.
“Eu daria a ideia que as prefeituras aproveitassem esses espaços. Em Pombal, a prefeita Poliana fez a secretaria de esportes e ajeitou toda estrutura. No Iguatú, o prefeito fez uma estação digital”, confessa Seu Ademar ao ver a Estação Ferroviária de Patos completamente abandonada.
Em Patos, bem como no resto do Estado da Paraíba e em parte do Nordeste, as estações de trem estão abandonadas e um patrimônio bilionário sendo desperdiçado pelos governantes que deveriam intervir antes que seja tarde demais.

Jozivan Antero – Patosonline.com
Agradecimentos:
Severino Urbano, Eriwertton Candeia, José Cleófas (SINTEFEP) e ao senhor Ademar Almeida.
http://patosonline.com/post.php?codigo=41996

Nenhum comentário:

Postar um comentário