segunda-feira, 26 de março de 2012

Falhas no sistema ferroviário

Primeiro Caderno | Dia-a-dia
Edição de domingo, 30 de janeiro de 2011
Relatório do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias aponta problemas em muitas áreas do setor.
Rafael Oliveira // rafaeloliveira.pb@dabr.com.br

Trens sucateados, pátios e estações em condições precárias, quadro insuficiente de funcionários. Estes são alguns dos problemas apontados pelo Relatório do Sistema de Trens Urbanos da Paraíba, elaborado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias no Estado da Paraíba (Sintefep-PB). Segundo o documento, apenas duas locomotivas estão funcionando, mesmo em condições precárias, com vagões de passageiros apresentando defeitos, trafegando com as portas laterais abertas ou sem iluminação.

O relatório aponta para problemas como o excesso de funcionários terceirizados, sem a realização de concurso público. O presidente do Sintefep-PB, José Cleófas Batista de Brito, afirma que existem cerca de 200 terceirizados em todos os setores, tendo apenas 85 concursados no quadro de funcionários. "O último concurso público para a CBTU João Pessoa foi realizado em 2003, e até hoje nunca mais se falou reposição dos funcionários que saíram", ressalta o sindicalista

Usuários reclamam das condições de conservação de algumas locomotivas usadas diariamente na capital Foto: : Alessandro Assunção/ON/D.A Press
As estações ferroviárias, segundo o documento, estão funcionando de forma precária. Com exceção da Estação Manguinhos, todas as outras precisam de reformas em suas estruturas. Algumas apresentam problemas de segurança, como é o caso da Estação Alto do Mateus, que, de acordo com o relatório, "é ocupada diariamente por bandidos armados, causando terror aos usuários e trabalhadores".

"As estações de Cabedelo e Mandacaru têm problemas de infiltração. As estações de Bayeux, Várzea Nova e Santa Rita apresentam problemas de ferrugem nas estruturas, e várias outras, como a Renascer, Poço e Jacaré, não possuem bancos para as pessoas esperarem o trem sentadas", reclama José Cleófas.

Os usuários também reclamam do grande intervalo entre as viagens e vagões sem ventilação adequada. A manicure Fabiana Brito utiliza os trens três vezes por semana, e afirma que os vagões são muito quentes. "Tem horários que é mais tranquilo, mas durante o início da manhã até o meio-dia, é um mormaço dentro do trem", diz. O professor José Robertoreside em Bayeux e dá aulas em João Pessoa. Ele reclama que os horários não permitem que ele faça a utilização dos trens como gostaria. "Se eu pudesse, utilizava todo dia. Mas, às vezes, com os intervalos muito grandes entre uma viagem e outra, preciso trocar o trem pelo ônibus, e acabo pagando mais caro", reclama. Para se ter uma ideia, a tarifa do trem é de R$ 0,50, enquanto a dos ônibus de Bayeux e João Pessoa ficam entre R$ 1,90 e R$ 2,10.

 
CBTU garante modernização

Após tomar conhecimento das denúncias, o superintendente regional da Companhia de Trens Urbanos (CBTU) na Paraíba, Lucélio Cartaxo, compareceu a redação do Jornal O Norte para prestar esclarecimentos sobre o assunto. A primeira questão tratada por Cartaxo foi a da segurança. Para ele, não compete à CBTU resolver o problema da segurança da comunidade. "A Estação era uma reivindicação da comunidade que vinha se arrastando por dez anos. Conseguimos verba e construímos a estação há cerca de dois anos, mas sabemos que a comunidade sofre com a violência e o tráfico de drogas na região. De qualquer forma, existem seguranças armados em todas as estações, exceto dentro dos trens, que não é permitido", explicou.

Lucélio Cartaxo destacou que existe um projeto de modernização dos transportes que já está em tramitação no Governo Federal, realizado pela direção nacional da CBTU em parceria com o Ministério das Cidades. O projeto, avaliado em R$ 120 milhões, envolve a substituição dos trens convencionais por oito Veiculos Leve Sobre Trilhos (VLTs), e como consequência, envolvem a construção de novas estações, sinalização e ampliação da linha férrea. "Nós investimos cerca de R$ 5 milhões nos últimos anos na substituição dos trilhos de madeira por trilhos de concreto, que são mais resistentes e aptos para receber os VLTs", afirma o superintendente.

Concurso previsto, mas sem data

O problema dos funcionários terceirizados foi colocado em questão para o coordenador regional de Recursos Humanos da CBTU, Leonardo Bonardi, que confirmou os números citados pelo relatório. "A empresa define modelos de responsabilidades de áreas com dificuldade de reposição de mão de obra, e por isso opta pela contratação de empresas terceirizadas para executar tarefas em áreas como a segurança, limpeza e até mesmo na bilheteria", explica Leonardo Bonardi, que anunciou que um novo concurso está sendo providenciado. "A companhia já chegou a ter 125 funcionários concursados, e hoje possui apenas 95. Não existe uma forma de realizar a reposição deste pessoal na velocidade que nós queremos, pois a autorização da realização de um novo concurso não vem da CBTU, e sim dos ministérios do Planejamento e das Cidades", ressaltou.

Sobre as reformas das estações, o superintendente da CBTU afirma que alguns dos pontos, como Cabedelo, João Pessoa e Jacaré, são tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e que qualquer intervenção destas estações devem ser realizadas através deste órgão. "Desde dezembro de 2010, estamos com um projeto de reforma das estações em andamento", disse.                   



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