DOCUMENTOS DA CBTU
PEGAM FOGO E VÃO PARAR NO LIXO SEM PASSAR POR PERÍCIA.
Papéis
poderiam auxiliar nas investigações de contratos de aluguel e de concessões da
companhia
Por Mateus Parreiras e Valquiria
Lopes
Documentos da superintendência
mineira da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) que poderiam auxiliar o
Ministério Público (MP) e a Polícia Civil a investigar mais de 25 denúncias de
irregularidades em contratos de aluguel, prestação de serviços e concessões
foram destruídos em um incêndio com suspeitas de ter sido criminoso, em 28 de
agosto deste ano. De acordo com o Sindicato dos Metroviários de Minas Gerais, o
fogo se alastrou justamente na repartição que guarda contratos de concessão,
desapropriações e outros, que são alvo de devassa do Ministério Público (MP)
estadual por suspeita de subfaturamento e irregularidades em mais de 200
contratos, como tem denunciado série de reportagem do Estado de Minas.
O
incêndio é investigado pela Polícia Civil e o laudo pericial deve ser
encaminhado nos próximos dias para o delegado responsável pelo caso. Por
enquanto, não foi determinado se a causa foi acidental ou proposital.
A CBTU chegou a divulgar que
nenhum documento foi perdido, mas a reportagem teve acesso a fotografias feitas
pelo sindicato que mostram vários documentos timbrados da companhia e relativos
ao setor em questão, que foram parcialmente queimados e que em vez de serem
reunidos, periciados e recuperados, acabaram sendo jogados fora numa caçamba de
entulho na rua de trás da superintendência, no Bairro Colégio Batista, Região
Leste de BH. Um arquivo de metal que pegou fogo também foi descartado.
Desde domingo o EM mostra que
além de não ter recebido nenhum investimento há quase sete anos, o metrô de BH está
envolvido em investigações de corrupção. Uma delas diz respeito a 200 contratos
de aluguel que estariam sendo usados para desviar recursos para servidores
públicos. Outra, a cargo da Polícia Federal, apura a compra de 10 trens numa
licitação feita por empresa suspeita de formação de cartel e corrupção em São
Paulo e Porto Alegre. O sindicato acredita que o fogo tenha sido proposital.
“Não sabemos até onde (o incêndio) interessa a alguém. Contestamos a forma como
ocorreu (o combate), e os documentos não foram avaliados e simplesmente os
jogaram fora”, afirma o vice-presidente da entidade que representa os
metroviários, Romeu José Machado Neto. “O incêndio no prédio sede só queimou a
área de patrimônio. Tentamos ver o que ocorreu, mas o sindicato foi barrado
pela segurança no momento e depois fomos proibidos de entrar no setor”, conta
Neto. Entre os documentos chamuscados e jogados na caçamba, o sindicato
identificou cédulas referentes a desapropriações e descrições de patrimônio da
CBTU.
Uma fonte ligada à diretoria da
superintendência informou que os documentos relativos a contratos sob suspeita
foram removidos do setor para serem avaliados por uma sindicância interna que
apurava as mesmas denúncias de irregularidades investigadas pelo MP. “A
sindicância terminou e não constatou nenhuma irregularidade. Isso deixou muita gente
revoltada, questionando a autenticidade dos laudos e avaliações. Por isso
tantas denúncias ao MP”, conta essa fonte, que não será identificada para não
sofrer retaliações. “O mais impressionante é que o incêndio ocorreu justamente depois
que o MP foi acionado. É muito suspeito. Não se sabe ao certo quais documentos
se perderam, mas isso abre a possibilidade de que provas tenham sido eliminadas
para serem substituídas pela sindicância, que foi insatisfatória”, afirma o
funcionário.
Procurada, a CBTU informou que
“fez todos os registros pertinentes ao ocorrido e aguarda a emissão de laudo
pericial acargo da Policia Civil para tomar as providências cabíveis”.
Sem investimentos e sem verbas
A
falta de investimentos e as suspeitas de desvios de verbas que poderiam ter
sido usadas para melhorar a qualidade e o alcance do metrô de BH são temas da
série de reportagens “Por debaixo dos trilhos” publicadas pelo Estado de Minas desde
domingo. A primeira denúncia mostrou que, apesar de não ter investimentos desde
2007 e apenas uma linha (Vilarinho/Eldorado), o metrô de BH foi obrigado a
fazer repasses para o do Recife que somaram R$ 54 milhões nos últimos 5 anos.
Em seguida, uma lista da própria CBTU indicou que a União barrou mais de R$ 800
milhões previstos para obras de ampliação do sistema mineiro. Verbas não vinham
e, para piorar a situação, os valores cobrados pelo aluguel de terrenos e lojas
ao longo da única linha da capital mineira estão muito abaixo do preço de
mercado, o que levou o Ministério Público a investigar mais de 200 contratos
suspeitos de subfaturamento para beneficiar funcionários públicos. Ontem, a
reportagem mostrou que a mesma consultoria acusada de formar cartéis para
beneficiar consórcios que disputavam serviços para o metrô de SP recebeu R$ 4,6
milhões para elaborar a licitação que selecionou as fornecedoras de 10 novos
trens para BH.
Fonte:
O Estado de Minas
Publicado:
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013