quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Mobilidade e prioridades no transporte


Na contramão das providências, o governo federal cria estímulos de crédito e isenções para a venda de automóveis, sem a contrapartida de estradas

Editorial do Jornal Correio Popular de Campinas

A preocupação com os aspectos da mobilidade urbana entrou em todos os discursos atuais, não apenas de candidatos políticos, mas daqueles engajados no propósito de criar situações ajustadas de crescimento. As condições de estradas, ruas e avenidas são deploráveis, a ponto de especialistas anteciparem o caos nos transportes se não forem tomadas urgentes providências. Há um consenso de que a solução mais adequada é o fortalecimento do sistema de transporte público, oferecendo alternativas econômicas e rápidas de locomoção para a população, a exemplo de países mais desenvolvidos.

A implantação de redes de metrô, veículos articulados, corredores especiais são prioridades que se impõem com urgência diante de um problema que cresce em aceleração máxima. Na contramão das providências, o governo federal cria estímulos de crédito e isenções para a venda de sem a contrapartida de estradas e expansão da malha viária urbana. Alegando a manutenção de empregos na indústria automobilística e a garantia dos níveis de consumo, cria mecanismos a partir de renúncia fiscal que apenas contribuem para colocar mais veículos em circulação, sem atentar para a responsabilidade de criar estrutura para absorver essa demanda.

A realidade de Campinas é espelho dessa situação. Em agosto, registravam-se 875.525 veículos no município, uma média de um carro para cada 1,3 habitantes, podendo chegar à marca de um por habitante em apenas sete anos. A esse número, devem-se acrescentar cerca de 30% de veículos recebidos diariamente de outras cidades. O crescimento da frota no último ano foi três vezes maior que o aumento populacional e, claramente, pode-se perceber que não houve proporcionalidade na expansão da estrutura urbana (Correio Popular, 21/9, A10).

No Brasil, cultua-se o transporte individual, criando o impasse entre o crescimento exponencial da frota de veículos e o não redimensionamento das vias de tráfego. Difícil argumentar contra o transporte individualizado, até porque o usuário ainda encontra facilidades e necessidade de se locomover por conta própria, diante do caos que se instalou no trânsito e as obrigações que exigem ganho de tempo. Todos os exemplos apontam para a necessidade de equipar as cidades com uma rede ampla de transporte, que acomode a viabilidade dos investimentos e o interesse dos usuários, que esperam por um transporte público que possa, gradualmente, se tornar mais interessante, confortável e econômico que o transporte individual.

Fonte: Correio Popular de Campinas - http://www.sinfer.org.br/site/ultimas_noticias.asp?id_noticia=20535640 
 

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